sábado, 1 de setembro de 2007

Pra que serve a história da história?

Se a história científica é apenas a preocupação com "fontes antes primárias do que secundárias", então a história até hoje é científica. Mas é evidente que não se trata apenas disso. A escola dita "positivista" queria encontrar uma 'verdade' maiúscula que não é mais possível hoje em dia.

"Persuadimo-nos progressivamente de que o fato que se passou realmente, ou as condições da vida verdadeira de cada época nos escaparão sempre, de que os abordamos através de uma barreira deformadora: as fontes que deles falam."

Sei que já citei essa passagem aqui antes. Mas, como todo aluno meu sabe, gosto muito de Georges Duby. E foi Duby quem primeiro me justificou o estudo que tento fazer, a história da história. Estudar a historiografia de um período é

"considerar sobretudo a maneira como os fatos foram relatados. Ou seja, estudar o vestígio por si próprio [...]. O que me interessa, pois, é a maneira como o acontecimento havia sido, não direi sequer percebido, mas fabricado pelos meus predecessores, os historiadores."

Com esse tipo de abordagem, Duby conseguiu realizar estudos que, partindo muitas vezes de um único documento ou de um único personagem, vão tecendo tramas ao redor desse início aparentemente modesto e o inserem em uma 'realidade' muito maior. Assim, por exemplo, Guilherme Marechal, obra escrita a partir da análise de uma biografia encomendada pelo filho do biografado, não é estudo da vida de um regente da Inglaterra no início do século XIII, mas investigação sobre toda a instituição da cavalaria como percebida e fabricada naquela época.

Mas há, ainda, uma outra abordagem possível para o estudo da historiografia. Pode-se estudar a produção histórica fazendo-se outras perguntas: como os historiadores conceberam sua tarefa? como apresentaram suas obras? o que pretendiam com elas? a que se referiam quando escreviam a palavra 'história'? quais eram seus modelos? suas fontes? para quem falavam?

Em suma, é possível fazer história da história buscando "indicar as balizas e marcar as etapas da longa história do conceito de história" (François Hartog; grifo meu). Diferentes posições teóricas, diferentes idéias sobre a função e a 'natureza' da história se colocam em uma posição de alteridade em relação ao trabalho do historiador contemporâneo. Assim, examinar os conceitos de história de nossos antecessores historiadores é pensar sobre nossas idéias de história, seu significado, sua função, seu método. Ou seja, fazer teoria da história, "pensar a história fazendo história" (Hartog).

3 comentários:

Anônimo disse...

ótimo blog. Parabéns!

Joelma Dias

Unknown disse...

Esclarecedor, simples para descomplicar o que alguns acham complicado.
Parabéns!

Unknown disse...

esclarecedor