sexta-feira, 20 de julho de 2007

Religião e história

O último texto me deu um bocado de trabalho. Passei uns dez dias escrevendo-o e reescrevendo-o e nunca me dava por satisfeito. No fim das contas, resumi drasticamente seu tema e falei apenas da má leitura de um documento histórico que, por acaso, era a Bíblia. Minha intenção original, no entanto, era discutir as relações entre história e religião de uma maneira bem mais abrangente. Não consegui.

Hoje de madrugada, passeando pela Internet no meio da minha frustração, descobri que a revista History and theory, a mais importante e reconhecida revista acadêmica dedicada ao campo da teoria da história, publicou, em dezembro do ano passado, um número especial intitulado - adivinhem! - 'Religion and history'.

E o que History and theory tem a dizer sobre isso? Bem, os artigos completos não estão disponíveis, mas seus resumos já nos dão uma amostra. A ênfase é, como seria de se esperar, teórica: artigos como 'Transcendendo dicotomias na história e na religião', de C.T. McIntire, ou 'Sobre o preconceito secular no estudo da religião', de Brad S. Gregory, não deixam dúvidas a esse respeito. Um dos resumos, no entanto, me chamou imediatamente a atenção e vou traduzi-lo aqui. Trata-se de 'História e religião na era moderna', de Constantin Fasolt (os grifos são meus):

"Este ensaio busca clarificar a relação entre história e religião na idade moderna. Ele [...] sustenta que a história conta com os mesmos meios que a religião para alcançar os mesmos resultados. A virada para a evidência histórica realizada pelos historiadores e seus leitores é mais que um caminho para o conhecimento. É um ritual religioso desenhado para fazer seus participantes se sentirem em casa em seu ambiente social e natural. De modo muito parecido com a representação da morte e da ressureição de Cristo na Missa, a representação histórica do passado sublinha a fé na liberdade humana e a esperança na redenção do sofrimento. Ela ajuda os seres humanos a encontrarem seus caminhos na era moderna sem ter que ir a igrejas pré-industriais e rezar de velhas maneiras agrárias. A história não entra em conflito com a religião apenas porque ela a revela fundada em crenças que não são suportadas pelas evidências. A história entra em conflito com as religiões históricas porque ela é uma religião rival."

Uau! Fica difícil falar qualquer coisa sem ler o artigo completo, mas a idéia é interessante. E polêmica! No mesmo número da mesma revista, já aparece uma resposta que, segundo o resumo disponível, "rejeita tanto sua [de Fasolt] visão romântica da religião passada como uma conciliadora pacífica, quanto sua visão pessimista da religião atual como uma criadora de 'inimigos' entre os povos modernos. [...] Na minha opinião, a história que Fasolt conta é tanto muito amarga (sobre a alienação humana) quanto muito otimista (sobre a história como a salvadora moderna)". A primeira vista, concordo e discordo de muitas coisas nesses resumos. Minha única certeza no momento é que eu quero ler esses artigos e discutir essas idéias.

Um comentário:

Anônimo disse...

o gostei dos textos e tambem sou fan do fluminense eu acredito nele.
vlw ae